Data centers vão consumir 3% da eletricidademundial em 2030

By Marilia Criscuolo In Bolt Labs

30

set
2025

Brasil lidera na América Latina a expansão de energia renovável para centro de dados, com um aumento de 165 gigawatts de geração, entre 2023 e 2028

O avanço no uso de inteligência artificial (IA), internet das coisas e blockchain, com a necessidade de operação contínua de servidores e sistemas de refrigeração, está contribuindo para um aumento significativo do consumo de energia dos data centers, os maiores consumidores de eletricidade da área de Tecnologia da Informação.

— Pode-se afirmar com segurança que a eletricidade costuma ser o maior componente do custo operacional de um data center. Estudos indicam que a energia pode representar de 40% a 80% das despesas operacionais, dependendo do clima, da configuração térmica e do preço local da energia — argumenta Michel Navega, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Engie Soluções.

De acordo com relatório do Capgemini Research Institute, datado de 2024, em 2022 os data centers respondiam por 460 TWh de consumo de energia, o que equivalia a 2% da demanda global de eletricidade, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).

É o suficiente para abastecer a França. Até o fim deste ano, espera-se que o volume global de dados atinja 175 zettabytes (ZB). Em 2018, era 33 ZB, segundo o relatório da consultoria.

— Em 2017, houve um boom de consumo dentro dos data centers. No período de 2017 a 2023, o consumo mais que dobrou, em decorrência do uso de IA, que demanda alto poder computacional, e da digitalização de uma maneira geral — explica André Flávio Pereira, responsável pela área de Engenharia, Pesquisa e Desenvolvimento em Energia da Capgemini.

De acordo com projeções da Informa Markets, promotora do evento Energy Solutions Show, em 2030, os data centers serão responsáveis por 3% da demanda mundial de eletricidade e deverão registrar até lá taxas de crescimento anual de 15%.

— A estimativa de consumo para 2030 será ligeiramente superior ao consumo elétrico atual do Japão — informa Fernando D’Áscola, head do Portfólio de Infraestrutura e Tecnologia da Informa Markets.

Competitividade

Para reduzir o consumo de energia, as empresas estão combinando novas tecnologias, processos e fontes alternativas de energia.

— Eficiência energética deixou de ser uma meta de sustentabilidade e tornou-se fator de competitividade global — afirma Alberto Leite, CEO do Grupo FS.

Entre as estratégias está o emprego de sistemas avançados de refrigeração. Trata-se de uma área que já representa uma parcela relevante da conta de energia.

— Outras providências são a virtualização (cópias virtuais de recursos físicos) e consolidação de servidores, reduzindo o número de equipamentos físicos em operação, e a automação com IA, capaz de desligar recursos ociosos em tempo real — diz o CEO.

Na opinião de Pereira, da Capgemini, a redução do consumo deve começar pelo design dessa infraestrutura:

— A alternativa é dimensionar equipamentos mais eficientes, com designs modernos, que sejam usados de maneira inteligente para economizar energia, principalmente com refrigeração dos equipamentos. Deve-se evitar ociosidades ou retrabalhos no processamento dos dados.

O monitoramento em tempo real dos equipamentos dos data centers pode ser uma das opções, segundo D’Áscola, da Informa Markets:

— Uma alternativa é fazer ajustes dinâmicos ou automáticos do uso de energia, conforme carga de trabalho. Dessa forma é possível evitar os desperdícios.

Chance de triplicar oferta

A capacidade mundial de gerar eletricidade renovável está se expandindo rapidamente nas últimas três décadas. Na área de data center, ela é uma forte tendência. Segundo a AIE existe uma chance real de se triplicar a capacidade global de renováveis até 2030. O Brasil lidera a América Latina nessa área:

— Estimativas apontam um aumento de 165 gigawatts de geração renovável na região, entre 2023 e 2028, sendo que o Brasil deve representar 65% desse total — afirma D’Áscola,

O ambiente é propício para empregar essas energias em data center, para diminuir custos operacionais e mitigar o impacto ambiental.

— As grandes empresas de tecnologia já se comprometeram a operar com 100% de energia limpa — diz André Clark, vice-presidente sênior da Siemens Energy para a América Latina.

Ele diz que, no Brasil, a combinação de energia solar com bateria e eólica é a mais promissora:

— Outro grande potencial para o Brasil é o hidrogênio verde. Temos um dos menores custos marginais para produzi-lo.

O mercado de data center como um todo é totalmente promissor, de acordo com o diretor da Engie, Michel Navega. Ele cita a disponibilidade de fontes renováveis e de áreas para data centers, além de uma energia barata.

— O Brasil tem grande capacidade de se tornar um hub de data centers — afirma Fernando D’Áscola, da Informa Markets.

Incentivo na MP

Representantes do setor de data center elogiaram a MP 1318, publicada no último dia 18, que incentiva os centros de processamento a usarem energia de fontes renováveis ou “limpas”, por meio de autoprodução ou contratos de suprimento.

— Hoje, o Brasil desperdiça uma quantidade significativa de energia renovável que não consegue ser escoada pelo sistema de transmissão. Com a MP, surge a possibilidade de direcionar esse excedente para operações de data centers, agregando valor à economia digital e evitando o desperdício de recursos limpos — afirma Gustavo Ayala, CEO do Grupo Bolt.

Para Sérgio Brasil, CEO da Renova Energia, a MP amplia de forma significativa o potencial de novos empreendimentos. Segundo ele, há um “robusto conjunto de projetos”, e o Brasil pode vir a ser um player relevante no fornecimento de energia para os novos data centers.

Alessandro Lombardi, presidente da Elea Data Centers, afirma que o Brasil, com o incentivo da MP, pode se tornar um exemplo de sustentabilidade na operação dos data centers:

— É revolução verde e a IA com matriz renovável.

Por Maria Lúcia D’Urso
O Globo – 30/09/2025