Soluções cada vez mais flexíveis e personalizadas são os atrativos das empresas comercializadoras de eletricidade para atender ao aumento da demanda e a expansão acelerada do mercado livre, especialmente com a abertura para consumidores de pequeno porte. O número de comercializadoras varejistas registrou este ano um crescimento expressivo, com mais de 120 empresas habilitadas.
“Esse movimento gera um ambiente mais competitivo e traz oportunidades de negócio, como a possibilidade de as comercializadoras ganharem escala e poderem explorar novos nichos de clientes”, avalia Carlos Andrade, vice-presidente de soluções para clientes da EDP na América do Sul. “Mas também há desafios relacionados, principalmente, às margens de comercialização, diferenciação em serviços, gestão de risco e atendimento ao cliente”, diz o executivo.
A competição fica mais acirrada, mas a tendência é o mercado crescer também, avalia Rodrigo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). Em junho, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o mercado livre registrou mais de 77 mil unidades consumidoras, alta de 57,7% em 12 meses e de 123,8% em 24 meses. “Esse crescimento tem sido impulsionado pelos consumidores de energia em média e alta tensão, mas de menor porte, com demanda menor que 500 kW, que passaram a poder escolher o fornecedor em janeiro de 2024”, diz Ferreira.
Para Alexandre Ramos, presidente do conselho de administração da CCEE, o país vive hoje um momento histórico de expansão e transformação do mercado livre, com o consumidor no centro das negociações e decisões. A entrada daqueles de menor porte aumentou a concorrência com a pulverização do segmento de comercializadoras, ampliando oportunidades no ambiente varejista. “As migrações para o ambiente de contratação livre confirmam esse quadro promissor: entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 13.833 novos consumidores”, diz.
Na Engie Brasil, uma das maiores comercializadoras no mercado livre, essa evolução se reflete em três prismas, diz Gabriel Mann dos Santos, diretor de regulação, estratégia e comunicação: atuação consultiva, com contratos adaptados ao perfil de cada cliente; energia 100% renovável; e serviços que promovam eficiência e sustentabilidade.
“Utilizamos plataformas digitais como o Energy Place, contamos com uma equipe técnica especializada e uma rede de representantes para garantir uma jornada simples e eficiente”, diz. “Além disso, ofereceremos certificados de energia renovável (I-RECs) e ações de descarbonização, reforçando nosso papel como parceira estratégica na transição energética”.
Com mais de 20 anos de atuação no setor, a comercializadora do Grupo Energisa se adaptou para atender a um mercado ampliado, conta Camila Schoti, diretora executiva de marketing e comercial da (re)energisa, unidade do grupo voltada para soluções energéticas sustentáveis e renováveis, com atuação no mercado livre. Em março de 2024, a Energisa adquiriu a startup Clarke Energia, que se tornou uma das maiores gestoras de energia livre no segmento de clientes de menor porte, segundo Schoti. “Reduzimos em 60% o custo de aquisição de cliente (CAC), diminuímos em 77% o custo de atendimento por cliente e triplicamos as vendas no mercado livre entre janeiro e maio de 2025”, diz.
A empresa foca seus investimento no desenvolvimento de tecnologias para a digitalização e a descentralização do sistema elétrico, informa Schoti. Um exemplo, diz ela, é a plataforma Virtual Power Plant (VPP), desenvolvida no Tocantins, com mais de R$ 20 milhões investidos por meio de um projeto de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “A solução integra ativos como geração distribuída e sistema de armazenamento em baterias em uma plataforma de gerenciamento inteligente, operando com algoritmos que otimizam o uso de energia e realizam o despacho dinâmico dos recursos locais”, conta.
Com um faturamento anual em torno de R$ 1 bilhão, e mais de 30 milhões de MWh comercializados, a Bolt Energy também investe em digitalização e automação dos seus processos, aponta Gustavo Ayala, CEO do grupo. “O objetivo é garantir agilidade e clareza nas negociações”, afirma.
Originalmente uma empresa de distribuição de gás domiciliar, a Ultragaz vem consolidando sua atuação com uma plataforma de soluções energéticas integradas, com investimentos que unem tecnologia, eficiência e capilaridade, comenta Lucas Witzler, diretor de energia. Em 2022, a companhia adquiriu a startup Stella Energia, por R$ 63 milhões, para atender consumidores de baixa tensão, e no ano passado, comprou 51,7% de participação da Witzler Energia, por R$ 110 milhões, acelerando sua presença no mercado livre. “Hoje, já atendemos mais de 50 mil consumidores com geração fotovoltaica e seguimos expandindo com novas frentes especializadas e usinas próprias em diversas regiões do país”, diz o diretor.
Por Genilson Cezar – 31/07/2025
Valor Econômico